Photo: Nuno Calado

 

Carlos Bica

Prémio JazzLogical CD do ano - nacional 2024 com «11:11»

 

Apesar de nunca te teres apegado a nenhuma formação tipo, eu creio que este quarteto de contrabaixo, guitarra, saxofone e vibrafone é mesmo um inédito. Como é que chegaste lá? Foi o som, foram os instrumentos ou as personalidades?

Cheguei a esta formação pelo som único que resultou da constelação de músicos que a compõem. O som de uma formação musical é fruto da personalidade e expressividade musical de cada um, combinada com a cor dos instrumentos que tocam. Desde o nosso primeiro encontro, senti que havia algo especial neste quarteto — uma química rara, com potencial para criar coisas verdadeiramente bonitas.
O José Soares, o Eduardo Cardinho e o Gonçalo Neto são alguns dos melhores músicos do panorama nacional, sinto-me privilegiado por nos termos encontrado e podermos fazer música juntos.
É maravilhoso quando se consegue ter uma formação em que cada músico é verdadeiramente insubstituível, só por isso, já se pode dizer que o principal objetivo foi cumprido.

Vais tocar com o teu trio Azul, com o Frank Mobus e o Jim Black, no Barreiro, no próximo domingo, e em Julho no Funchal. O projecto vai fazer 30 anos! Ainda podemos esperar surpresas do Azul?

Ser surpreendido ao fazer música é algo que sempre procurei - essa busca inquietante continua agora tão presente como quando dei os meus primeiros passos musicais. Os 30 anos de existência do Azul não nos tornaram velhos aborrecidos, mas antes pelo contrário, trouxeram-nos sabedoria, maturidade, liberdade e uma alegria renovada em tocar juntos. Continua a ser um imenso prazer partilhar o palco com dois músicos que, para mim, estão entre os melhores do mundo.

Quais são os teus projectos para 2025? – Vais continuar os projectos com o DJ Illvibe? Com a Maria João? Vais reactivar o Azul? Ou vais explorar o quarteto «esdrúxulo» que experimentaste em 11:11?

São vários os projectos musicais em que estou neste momento envolvido, cada um com a sua identidade e energia própria.
O quarteto 11:11, com o José Soares, Eduardo Cardinho e Gonçalo Neto, é a minha formação mais recente. É uma banda com a qual tenho planos e o desejo sincero de ainda virmos a fazer coisas muito bonitas.
A colaboração com a Maria João, continua viva, com concertos já agendados. A Maria João está a celebrar 40 anos de carreira, foi com ela que ambos demos os nossos primeiros passos no cenário internacional. Tocámos juntos quase 10 anos até à minha mudança para Berlim, onde nasceu o trio Azul e também a vontade em construir os meus próprios projectos musicais. O nosso reencontro, depois de tantos anos, é ao mesmo tempo surpreendente e expectável.
O projeto Playing with Beethoven tem agendada para Outubro uma digressão com cinco concertos em Portugal. Trata-se de uma proposta musical ousada, que reúne músicos extraordinários: Daniel Erdmann (saxofone tenor), DJ Illvibe (Vincent von Schlippenbach) e João Barradas (acordeão). Também nesta formação, cada músico é absolutamente único e insubstituível.
Em 2026, o trio Azul celebrará 30 anos de existência com uma nova digressão europeia. Quando em 1996 lancei o álbum „Azul", o meu primeiro álbum como band leader, nunca imaginei que passadas três décadas, com inúmeras digressões pelo mundo fora e vários álbuns editados, que continuaríamos a tocar juntos.
É maravilhoso que assim tenha sido. Cada um de nós tem outros projetos ativos, o que nos permite continuar este trio sem pressões externas e com o mesmo prazer genuíno de sempre em tocar juntos. Muito em breve irei gravar o meu segundo álbum a solo de contrabaixo. O primeiro , o „Single“, foi lançado em 2004 – há 20 anos. Já é tempo de escrever um novo capítulo. Gravar um álbum a solo, sobretudo de contrabaixo, é um acto muito especial, um encontro íntimo, onde os segredos nos são sussurrados ao ouvido.
Em Janeiro do próximo ano estarei em estúdio para gravar um álbum em duo com o maravilhoso João Barradas no acordeão. Já tivemos a oportunidade de fazer dois concertos juntos, que nos deixaram profundamente entusiasmados com o que poderá nascer desta parceria.

Photo: Nuno Filipe Oliveira